"SOLIDÃO" X "INDIVIDUALIDADE"

Imagine a seguinte cena de um filme: um lugar tranquilo, uma música lenta tocando bem suave ao fundo e um indivíduo de semblante triste sentado sozinho à beira do caminho. Essa é, provavelmente, a imagem que muitos iriam criar em suas mentes caso fossem imaginar uma pessoa solitária. 

É comum as pessoas confundirem a solidão com a individualidade, já que o hábito de estar só é visto como algo ruim e nocivo. Por isso a tendência por ideias e conceitos sobre a solidão que remetem a sensação de abandono e sofrimento. 

Algumas atividades bastante simples e triviais, como ir ao cinema, viajar, sair para jantar são, para alguns, impossíveis de serem pensadas como atividades individuais. Entretanto, solidão e individualidade são coisas bem diferentes, já que gostar de estar consigo mesmo não é um comportamento ruim. 

A decisão de estar sozinho por si só não significa, necessariamente, estar abandonado. Pelo contrário, significa respeitar e valorizar a individualidade. Todos nós precisamos, em um momento ou outro, saborear a nossa própria companhia e nos sentirmos bem conosco mesmo, entendendo como a nossa essência tem se manifestado nas dinâmicas intersociais. Por isso a importância de estender que estar sozinho não significa ser solitário. 

Quando falamos em solidão, falamos de um estado de isolamento. A solidão faz com que desejamos nos isolar do mundo permanentemente. A solidão impede a socialização. E é nesse aspecto que a individualidade é diferente, já que ela é um conjunto de características que diferenciam uma pessoa da outra. São características que fazem de uma pessoa um indivíduo único. Pessoas que gostam de ficar sozinhas nada mais são que pessoas que gostam de estar em espaços que elas possam agir com maior autenticidade. Para essas pessoas, o fato de estarem sozinhas em determinadas situações não é algo temido. É algo encarado com naturalidade. 

Outra questão bastante importante de ser mencionada é o fato de pessoas que gostam de ficar sozinhas não serem pessoas introvertidas. São pessoas que não abrem mão de ter contato consigo mesmas e que compreendem que elas próprias são fontes de paz e harmonia. 

Segundo Flávio Gikovate (2015), psicoterapeuta e psiquiatra,

todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

Como vemos, estar sozinho não é algo que deva ser temido, mas sim, aproveitado. A ideia de que seremos completos ao encontrarmos outra pessoa não deve ser encarada como única alternativa para que se alcance a felicidade e a plenitude em nossa existência. Somos responsáveis pela nossa felicidade. Somos donos de nossas vidas. Assim como não é nosso papel cuidar da existência alheia, não cabe aos outros cuidar da nossa própria vida. 

Aproveite cada momento consigo mesmo. Extraia desse momento todas as reflexões e experiências possíveis para que a vida posse ser melhor vivida, sozinho ou acompanhado de outras pessoas.

Evandro Carlos Braggio 

19 de Janeiro de 2019 

REFERÊNCIA:

Gikovate, F. Sobre estar sozinho... Disponível em <https://flaviogikovate.com.br/sobre-estar-sozinho>. Acesso em 19 de jan de 2019.