PSICOSE: RESENHA DO FILME

29/03/2022 12:50

Psicose (Psycho, título original inglês) é um filme clássico de suspense e terror psicológico norte americano lançado em 1960. Foi dirigido por Alfred Hitchcock e baseado no romance homônimo de Robert Bloch. Foi indicado ao Oscar de 1961 em quatro categorias: melhor atriz coadjuvante, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor direção. Também no mesmo ano, ganhou o Globo de Ouro na categoria melhor atriz coadjuvante e o Prêmio Edgar na categoria de melhor filme.

O filme conta a história da secretária Marion Crane (Janet Leigh) que, após desfalcar seu patrão, vai parar num motel decadente de beira de estrada, dirigido por um homem perturbado de 30 anos, Norman Bates (Anthony Perkins).

A película de Hitchcock é considerada um de seus melhores filmes e reconhecido pela crítica internacional e estudiosos como uma obra na qual pode se lançar luz sobre um dos temas mais delicados dos transtornos psicológicos - a psicose.

O desenrolar dos fatos revela a psicopatia de Bates e o assassinato de Crane. Entretanto, para se conceber uma ideia clara do que levou o personagem a assumir a segunda personalidade de que trata o filme é preciso, antes de tudo, tecer alguns comentários sobre esse transtorno mental.

A psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido e classificado pelas três mais importantes áreas de estudo da mente humana: a Psiquiatria, a Psicologia e a Psicanálise. É um estado psíquico no qual há uma perda de contato com a realidade em que o sujeito pensa e age pelas suas próprias normas.

É importante salientar que desde cedo Sigmund Freud se esforçou em demonstrar um estudo explicativo das experiências psicóticas, como se observa em seus textos As Neuropsicoses de Defesa (1894) e Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa (1896).

Segundo nos ensina Freud pelas experiências com seus pacientes histéricos, as alucinações se configuram como "partes do conteúdo de suas experiências infantis recalcadas, ou seja, sintomas do retorno do recalcado" (1896, p. 179). Então, para ele, não há nada que possa diferenciar a psicose paranoica de uma histeria ou mesmo de uma neurose obsessiva, pois todas são derivações das lembranças aflitivas recalcadas. Todavia, um único traço diferenciativo caracteriza a paranoia: o fato de o sujeito ouvir vozes e ter alucinações imagéticas como decorrência de seus pensamentos inconscientes recalcados. Esses fenômenos delirantes se constroem por um mecanismo de projeção que rejeita a autocensura e que retornam como um sistema defensivo alucinatório.

Com o que expõe Freud, é possível entender que, em lugar de sintomas convertidos no corpo (o que caracteriza a histeria) ou ideias obsessivas na mente (o que caracteriza a neurose obsessiva), o retorno do material recalcado na psicose se materializa sob a forma de pensamentos oriundos das vozes que o sujeito acredita escutar e que atribui a outras pessoas.

A partir do que aprendemos pelos esclarecimentos fornecidos por Freud, fica mais claro percebermos como se dá a dinâmica de Bates em Psicose.

Percebemos que não houve um deslocamento da figura materna na construção psíquica do sujeito dentro do modelo edipiano, e com isso a impossibilidade do corte simbólico pela função paterna. Assim, a psicose desenvolvida pelo personagem se origina na recusa dele em aceitar a perda da mãe, fazendo com que a infância psíquica se fragmente, formando novas personalidades.

É interessante, como conclusão desse pequeno texto, percebermos a forma encontrada pela negação da realidade em criar um mundo paralelo em que o personagem continua mantendo sua mãe viva por meio de seus próprios atos de fala.


Evandro Carlos Braggio

18 de maio de 2018 


REFERÊNCIAS:

FREUD, S. (1894). As Neuropsicoses de Defesa. Vols. III das Obras psicológicas Completas de Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_________. (1896). Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa.Vols. III das Obras psicológicas Completas de Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.


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https://www.netflix.com/br/title/879522