PSICANÁLISE: O QUE POSSO ESPERAR DELA?

28/03/2022 20:33


Quem espera encontrar no consultório psicanalítico um conselheiro, provavelmente irá se decepcionar muito. Isso porque o psicanalista não é um amigo que te ouve e te diz de forma intuitiva aquilo que você deve realizar ou fazer. 

O verdadeiro trabalho de um psicanalista consiste em "dar ao eu do paciente a liberdade para decidir por isso ou por aquilo" (FREUD, 1923). Ou seja, conduzir seu paciente a identificar a origem de seus traumas e, assim, possibilitar que ele os resignifique, tornando as emoções mais amenas e adequadas. Dessa forma, a busca pelo equilíbrio flui de maneira assertiva e permite ao sujeito perceber melhor o ambiente ao seu redor, 

Num setting analítico, várias questões podem ser abordadas, desde pequenas angústias a problemas de ansiedade e relacionamentos. Entretanto, quando se refere a decisões pessoais, os psicanalistas se colocam como caminhos para serem seguidos, e não como pontos de chegada. 

Outra questão bastante importante a ser esclarecida é a questão da prescrição de medicamentos. Os profissionais da Psicanálise não agem como médicos ou psiquiatras, cabendo a esses a orientação medicamentosa. No entanto, psicanalistas podem colaborar com tais profissionais no encaminhamento de pacientes às especialidades médicas, bem como compor um quadro multidisciplinar de tratamento. 

A relação analista/analisando é algo bastante íntimo e particular. Sendo assim, a dinâmica do relacionamento social entre os dois deve ser sempre pautada na discrição e razoabilidade. Ou seja, um psicanalista provavelmente não irá te abordar ao encontrá-lo em qualquer público, mas irá cumprimentá-lo caso você demonstrar conforto ao vê-lo. 

Um dos pilares mais importantes para o exercício pleno e ético da Psicanálise é a pré-condição do analista em estar sempre em análise pessoal. Ou seja, um psicanalista mantém um percurso contínuo de estruturação do seu eu por estar em constante processo de análise, o que lhe possibilita uma supervisão perene. 

Em relação a isso, o próprio Freud (1927) nos esclarece que:

Aprende-se psicanálise em si mesmo, estudando-se a própria personalidade isso não é a exatamente a mesma coisa que a chamada auto observação, porém, pode se necessário, estar nela submetido. Existe grande quantidade de fenômenos mentais, muito comuns e amplamente conhecidos, que, após conhecido um pouco de conhecimento técnico, podem se tornar objeto de análise na própria pessoa.

Muitas pessoas sentem-se inseguras em buscar ajuda psicanalítica por não sentirem segurança ou mesmo duvidarem da confidencialidade desse profissional. Entretanto, é importante que se esclareça que existe uma ética e leis que exigem a total preservação da identidade dos pacientes. 

Com base nos esclarecimentos propostos até então, talvez uma dúvida possa ainda persistir: quando devo procurar um psicanalista? 

É importante salientar que uma pessoa não precisa apresentar alguma espécie de transtorno ou incômodo para solicitar a ajuda de um profissional da Psicanálise. A profilaxia psicanalítica é uma atitude bastante aconselhável para que as pessoas possam manter a saúde mental adequada e fluida. Além disso, há diversos motivos que levam uma pessoa ao analista, e dentre eles está a busca constante do equilíbrio e uma melhor qualidade de vida. 

Como breve conclusão, podemos dizer que a Psicanálise é uma abordagem psicológica que, ao propiciar a "cura pela fala", como nos ensina Sigmund Freud, não propõe resposta para tudo e nem nos oferece milagres. A Psicanálise procura, com seus métodos e técnicas específicas, investigar os sintomas apresentados pelo paciente e, juntos, chegarem à origem do trauma pelo mergulho ao inconsciente. 

Assim, através da parceria firmada entre analista e analisando, ambos percorrem um caminho de superação de dúvidas, tendo o analista como instrumento que o possibilitará resolver os conflitos e diminuir suas angústias.


Evandro Carlos Braggio 

05 de Setembro de 2018


REFERÊNCIAS: 

FREUD. S. (1923). O Ego e o Id. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX.Rio de Janeiro: Imago, 1996. 

_________ (1927). O futuro de uma ilusão. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI.Rio de Janeiro: Imago, 1996.