METAPSICOLOGIA FREUDIANA: RESENHA

29/03/2022 12:29

Durante todo o processo de formulação de suas teorias psicanalíticas, Sigmund Freud enfrentou diversas resistências, tanto da comunidade científica como também de outros setores da sociedade da época. Entretanto, duas situações específicas foram bastante desagradáveis e, acima de tudo, desoladoras.

A primeira a ser destacada tem como protagonista Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicanalista suíço. Após alguns anos de intensa amizade, Freud o nomeia como "O Príncipe Herdeiro", capaz que prosseguir com o avanço da Psicanálise. Entretanto, por divergirem seriamente no campo das ideias, Freud se vê imensamente constrangido pelas atitudes de seu pupilo. Ao publicar o livro Símbolos da Transformação da Libido (1986), Jung declara abertamente sua discordância com uma das teorias mais fundamentais da tese freudiana, a sexualidade. Entretanto, foi um conjunto de coisas que acarretou o rompimento de Freud com Jung, dentre elas podemos citar a maneira desagradável e incorreta com que presidiu o congresso de Munique, em 1913, fato que acarretaria o rompimento com seu mestre.

A segunda punhalada viria de Alfred Adler, psicólogo austríaco. Esse, por sua vez, parecia não entender a noção de inconsciente postulada por Freud. Assim, passou a atacá-lo após seu desligamento do IPA - Associação Internacional de Psicanálise, o que gerou sua retirada em 1911 da associação e acarretou um embate político-científico sem proficuidade teórica.

A Metapsicologia Freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica e tem como propósito áureo explicar os fatos psíquicos em seu conjunto, majoritariamente pela via do inconsciente. Para a objetividade de nossa síntese, abordaremos dois aspectos importantes da Metapsicologia Freudiana: os mecanismos de defesa e o set analítico. 

Na Metapsicologia Psicanalítica proposta por Freud, o inconsciente ocupa um lugar de destaque. Ele é, por assim dizer, o "recipiente psíquico" que contém todos os sentimentos, pensamentos e memórias que não se apresentam no nosso viver consciente. Lá também está localizado o id, instância psíquica responsável pelas pulsões e regida pelo princípio do prazer.

Ao produzir seus impulsos instintivos, o id direciona seus desejos rumo ao ego para serem realizados. Essa outra instância psíquica, por sua vez, ao viver sob o princípio da realidade, recorre a mais uma instância, agora denominada superego. Essa última, munida de todas as normais e leis socialmente construídas, decide o que é ou não permitido executar.

É nessa tríade dinâmica que nascem os mecanismos de defesa. Eles consistem, de forma sintetizada, reações do ego ao crivo do superego, criadas para solucionar o problema da incompatibilidade entre o id (desejo) e o ego (mundo real).

Freud utilizou o termo mecanismo de defesa pela primeira vez em seu texto As Psiconeuroses de Defesa (1894), mas foi só em 1926 em Inibições, Sintomas e Ansiedade que ele amplia o conceito e o utiliza como denominação geral de todas as técnicas diferentes que o ego emprega em sua luta contra as exigências instintivas.

Segundo Freud, os principais mecanismos de defesa são: repressão, negação, racionalização, isolamento, formação reativa, projeção, regressão e sublimação.

A partir daí, encarando uma verdadeira "guerra de emoções", os sujeitos vivenciam seus traumas e precisam dar conta de suas angustias. O pensamento consciente, entretanto, não é capaz de compreender as diversas reações defensivas impostas pelo ego que, por meio de sintomas, mascaram suas reais causas.

Nesse ínterim, o set analítico se apresenta bem mais que um local em que analista e analisando procuram estabelecer a parceria que será capaz de conduzir o sujeito à superação de seus transtornos. O set analítico se torna um evento, uma oportunidade de reflexão e mergulho no inconsciente humano.

O analista, ao ORGANIZAR o "brainstorm" trazido pelo analisando, procura HARMONIZAR as demandas e LOCALIZAR o ponto-chave do problema, ou seja, o trauma. Assim, através do processo denominado por Freud como "cura pela fala", o analista conduz o paciente a IDENTIFICAR seu trauma e a RESINIFICÁ-lo de maneira a tornar o afeto relacionado a ele sem sentido ou com pouco significado.

A Metapsicologia Freudiana, como sabemos, é um sistema inacabado e repleto de lacunas a serem preenchidas por aqueles que seguem os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. Assim, com o avanço das ciências naturais, humanas e psicológicas, esperamos colaborar com esse processo de construção, tendo como objetivo desvendar os mecanismos desse "recipiente psíquico" chamado inconsciente.


Evandro Carlos Braggio

07 de Setembro de 2018



REFERÊNCIAS:

FREUD, S. (1894). As Neuropsicoses de Defesa. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Freud. v. III. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

______________. Inibições, Sintomas e Ansiedade. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Freud. v. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

JUNG, C. G. Símbolos da Transformação. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986.