A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE INGLÊS NA MODALIDADE EJA

28/06/2012 17:27

 

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE INGLÊS NA MODALIDADE EJA


 

Compreender as implicações que envolvem a formação do professor de Língua Inglesa que atua na Educação de Jovens e Adultos é, antes de tudo, considerar tal formação no âmbito geral das formações de professores que se configuram como atuantes nessa modalidade.

A partir dessa premissa, cabe-nos aqui refletir, de forma pragmática, tais implicações levando em conta que ser educador da EJA pressupõe possuir uma pré-disposição com configurações definidas e características próprias, uma vez que a modalidade em questão requer preparo especializado e uma necessidade contínua de adaptações e redimensionamentos quase que diários das práticas educativas.

A Educação de Jovens e Adultos, ainda em processo de amadurecimento, não possui um currículo pré-definido ou mesmo um campo pedagógico que venha a contemplar um conjunto de saberes e práticas meticulosamente definidas e relacionadas que atenda aos elementos comuns do ensino-aprendizagem em seus objetivos e princípios. Daí, a necessidade de uma formação docente que seja continuada representa um espaço importante para os educadores, procurando se articular em torno das necessidades específicas apresentadas nas demandas pedagógicas que surgem na sala de aula.

Algo mais há que se refletir. É impossível conceber a Educação de Jovens e Adultos sem visitar o diálogo entre os sujeitos. Nessa modalidade de ensino, tal situação torna-se um canal aberto para que o educando aprenda com eficácia, pois ele deixa a condição de mero receptor de informações e se coloca como agente nesse processo onde o saber aprender, o saber ouvir, o saber fazer e o saber ser tornam-se eixos significativos que o leva a experimentar a educação sob uma nova perspectiva – a noção de que aquilo que se aprende na escola se interliga com aquilo que ele tem como bagagem de vida e se concretiza na vida cotidiana.

Mediante a isso, entendemos que a aprendizagem que se estabelece na EJA é considerada de caráter intencional, uma vez que o professor provoca reflexões e situações onde, tanto o próprio professor como o aluno, aprendem, mantendo uma relação de reciprocidade.

A partir do que expomos, pontuamos que a Educação de Jovens e Adultos, além de ser um direito adquirido que tenta reparar as mazelas do passado, precisa ser planejada e dotada de conteúdos qualitativos que atendam aos anseios dos educandos, pois, segundo Martins e Duarte (2010: 14) “nenhuma formação pode ser analisada senão na complexa trama social da qual faz parte”.

Seguindo esse pensamento do fazer pedagógico voltado para o diálogo, as autoras refletem sobre os conhecimentos produzidos pela escola e pontuam que, “dizer que a escola deve socializar os conhecimentos historicamente sistematizados e elaborados pela humanidade não pode significar torná-los abstratamente ou em sua pretensa autonomia e neutralidade” (MARTINS e DUARTE: 2010, p. 88).

Baseados nessa reflexão, entendemos que o a formação do professor que trabalha na EJA assume uma função mais ampla e complexa dos que aqueles que atuam no ensino regular. Para eles, a defasagem do pensamento amplo e crítico e a própria alienação trazem barreiras difíceis de serem superadas, o que reforça ainda mais a necessidade de um eterno “reinventar” das ações pedagógicas diárias, pois, como as próprias autoras enfatizam, “a alienação presente nos conteúdos é um fardo que a escola, no interior da sociedade capitalista, deve encarar” (MARTINS e DUARTE: 2010, p. 95).

Sendo assim, voltando nosso pensamento para a formação do professor em Língua Inglesa, encontramos nos estudos de Serra (2000) elementos importantes referentes à construção do pensamento e práticas pedagógicas desse profissional.

Segundo ela,


 

Nota-se que a escola não propicia a EJA um ambiente próprio, pois, as aulas acontecem em escolas totalmente infantilizadas, ou seja, os espaços que acontecem a Educação de Jovens e Adultos durante o período diurno são, na sua grande maioria, salas de aula de Ensino Fundamental.


 

Surge aqui a primeira reflexão que queremos provocar sobre a formação dos professores desse importante idioma. Observamos durante nossa experiência docente ao longo dos anos, uma concepção de ensino de Língua Inglesa em formato formal e previsivo, onde o excessivo foco na gramática e a pouca contextualização com o cotidiano dos alunos leva a uma educação que não atende aos objetivos da EJA. O dito “ambiente próprio”, muito bem colocado pela autora, não se materializa apenas nas condições apresentadas nas salas de aula, mas se estende ao pensar didático dos educadores que pouco reflete a importância desse idioma para os sujeitos dessa modalidade.

Sabemos que “a ação educativa deve ser a preparação para o exercício da cidadania e formação de uma conduta ética e solidária” (SERRA: 2000). Sendo assim, a formação dos professores de inglês na EJA deve contemplar uma consciência da sociedade como um todo em que o conhecimento aprendido visa ampliar o próprio espaço cultural e a criticidade nos alunos cidadãos, haja vista os inúmeros e crescentes desafios do mercado de trabalho. Além disso, “se faz necessário adotar estratégias e metodologias para traçar metas para a formação de professores responsáveis por esse modelo de educação” (SERRA: 2000).

O segundo ponto que pretendemos discorrer nessa temática perpassa pela insuficiência de cursos de formação e qualificação para os profissionais dessa área. Ainda segundo Serra (2000),


 

Na formação de professores dessa modalidade há muitos entraves, pois nota-se a falta de cursos para esses profissionais específicos, além de políticas públicas que possam direcionar essas questões.”

Como vemos, não há formação específica que atenda a demanda da Educação de Jovens e Adultos no que tange a formação inicial dos educadores. O que temos são espaços de formação continuada e cursos de extensão onde, a nosso ver, muito se discute e pouco se concretiza sobre as especificidades de uma modalidade que se sujeita a profissionais formados na Docência Regular1, inclusive professores de inglês que muitas vezes têm como formação básica a licenciatura dupla de Letras Português/Inglês, lecionando o idioma estrangeiro a titulo de complementação de carga horária.

Pensamos a formação desse profissional com uma prática pedagógica crítico-reflexiva, na qual a elaboração de seus pensamentos e seu fazer pedagógico revelam um docente com habilidades e competências que o permite desenvolver o ensino-aprendizagem da língua inglesa como forma de transformar o mundo e levar o aluno a agir politicamente.

Outra reflexão que somos direcionados a fazer visita os Parâmetros Curriculares Nacionais, os Temas Transversais e a Interdisciplinaridade. Um professor de EJA precisa, em seus planejamentos individuais ou coletivos e nas práticas em sala de aula, buscar a aproximação entre as outras disciplinas da grade curricular no intuito de aperfeiçoar o que é estudado e o que é vivido, fazendo as relações de interdependência entre os diversos campos do saber e suas propostas metodológicas. Dessa maneira, a Língua Inglesa deixa de ser um idioma desprovido de significado e tido como “mais uma disciplina” e passa a ser coadjuvante de um processo em que há reflexão dos conhecimentos que se aprende e passa-se a produzir cultura.

Por fim, cabe-nos mencionar que apesar da consciência que temos sobre as múltiplas implicações que recaem sobre a Educação de Jovens Adultos, acreditamos que uma formação bem fundamentada dos docentes dessa modalidade, em especial o professor de Língua Inglesa, muito irá colaborar na construção de uma educação de qualidade.

 

 

REFERÊNCIAS:

MARTINS, Lígia Márcia e DUARTE, Newton. Formação de Professores: Limites Contemporâneos e Alternativas Necessárias. São Paulo: Ed. Cultura Acadêmica, 2012.

SERRA, Patrícia Pinheiro. Formação de Professores. Disponível em: <HTTP://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_19828/artigo_sobre_formação_de_professores>. Acesso em 17 de março de 2012.

1 Docência Regular é aqui entendida como cursos de graduação nas diversas disciplinas.