O Livro Didático: Alcances e Limites.

29/01/2011 22:21

 

O Livro Didático: alcances e limites

 

          O livro didático no Brasil, com honrosas exceções, sempre foi considerado de qualidade duvidosa e que não cumpre seu papel de apoio ao processo educacional. Muitos são autoritários e fechados, com propostas de exercícios que pedem respostas padronizadas, apresentam conceitos como verdades indiscutíveis e não permitem a alunos e professores, um debate crítico e criativo que é uma das finalidades do processo educacional.

          Os livros didáticos surpreendem pela monotonia e repetitividade de exercícios que conduzem os alunos a atividades de reprodução dos pensamentos elaborados por outros, em vez de se ocuparem no processo de construção do seu próprio conhecimento.

          Segundo FREITAS (1997:124),

 

“Nada é menos parecido com um livro, do que um livro didático. Abusam das ilustrações para desviar a atenção do conteúdo, são mal dosados, jogam a matéria, muitas vezes, sem método, bem como contêm imprecisões. Alguns têm vários autores. Muitas vezes a pessoa citada nem participou da elaboração do livro, nunca deu aula, não conhece o aluno. Apenas entrou na parceria”.

 

          Com freqüência os livros didáticos diluem fontes de conhecimento, simplificam-nas para torná-las acessíveis à compreensão do aluno. E raros são aqueles que o fazem com competência.

          Entretanto, os editores nunca foram responsáveis pela má qualidade dos livros didáticos produzidos no país. As empresas oferecem ao mercado o produto solicitado. As críticas de pesquisadores da educação que consideram a produção imprópria, de modo geral, surgem de concepções que pretendem um modelo ideal. 

 

“Mas os livros são produzidos dentro de realidades concretas, pois eles destinam-se a uma proposta de ensino massificadora, a alunos com lacunas de conhecimentos e a professores com uma inadequada formação (inicial ou continuada) e submetidos a precárias condições de trabalho docente”. (PFROMM; 1974:32)

 

          Nesse sentido, o livro didático acompanhou o desenvolvimento do processo de escolarização do Brasil. Se na primeira metade do século passado os conteúdos escolares assim como as metodologias de ensino vinham com o professor, nas décadas seguintes, com a democratização do ensino e com as realidades que ela produziu – algumas citadas acima – os conteúdos escolares, assim como os princípios metodológicos passaram a ser veiculados pelos livros didáticos.

          Essa antiga polêmica com relação ao livro didático, com alguns fazendo significativas críticas e outros defendendo esse material, certamente, não resolverá suas eventuais falhas e muito menos possibilitará a sugestão de novas propostas tanto para a sua elaboração quanto para a sua utilização.

          Atualmente, é possível inferir que a qualidade dos livros didáticos tenha melhorado bastante, especialmente, a partir das avaliações desse material pelo Ministério da Educação. Por outro lado, como afirma PFROMM (1974:69),

 

“é possível inferir que o livro didático ainda tem uma presença marcante em sala de aula e, muitas vezes, como substituto do professor quando deveria ser mais um dos elementos de apoio ao trabalho docente”.

 

Nesse sentido, os conteúdos e métodos utilizados pelo professor em sala de aula estariam na dependência dos conteúdos e métodos propostos pelo livro didático adotado. Muitos fatores têm contribuído para que o livro didático tenha esse papel de protagonista na sala de aula, mas o mais marcante de todos é que um livro promete tudo pronto, tudo detalhado, bastando mandar o aluno abrir a página e fazer exercícios, é uma atração irresistível. O livro didático não é um mero instrumento como qualquer outro em sala de aula e também não está desaparecendo diante dos modernos meios de comunicação. O que se questiona é a sua qualidade. Claro que existem as exceções.

          Mas que qualidade é essa que se avalia nos livros didáticos?

          Com base na análise de COSTA (1997:42) que se encontra no segundo capítulo do livro intitulado O livro didático em questão, vários níveis de respostas podem ser dados para essa questão. Num primeiro nível pode-se pensar em qualidade do livro didático enquanto objeto material. Outro nível de análise é aquele que focaliza o livro didático enquanto meio de comunicação. Há um bom tempo o livro didático brasileiro deixou de ser um livro texto para ser um objeto bonito e colorido. Praticamente desapareceram os livros que tratam de determinado assunto com amplitude, para surgir os que reduzem o conhecimento a pequenas partes. Por fim, resta outro nível ainda do livro didático analisando-o enquanto instrumento capaz de levar o aluno à aprendizagem.

          Uma boa parte dos livros didáticos, de inglês por exemplo já que este é nosso objeto de estudo, é feita por teóricos, especialistas na área, mas sem vivência de sala de aula. Muitos desses especialistas desconhecem os processos de construção das etapas que a criança ou o jovem têm que passar para chegar aos conceitos. Atualmente, professores têm sido autores de livros didáticos. Além disso, a maioria dos livros atribui grande importância à gramática da língua e reúne uma quantidade imensa de exercícios e problemas (em geral cansativos e repetitivos), visando somente à mecanização do conteúdo. Nesses casos vale lembrar que a ênfase na aprendizagem, por meio de problemas-padrão e exercícios com respostas fechadas, afasta a criança ou o jovem do prazer da descoberta.

                   

 

O livro didático de Inglês

 

          A situação de sala de aula brasileira permite dizer que nem a palavra do professor e muito menos os modernos meios tecnológicos de comunicação podem substituir o livro didático nas atividades escolares, pois este acumula várias funções, como, por exemplo, a de ser “instrumento de intercâmbio e inter-relação social, permitindo a comunicação no tempo e no espaço, assim como constitui vasta fonte de informações” (MOTTA; 1997:12).

          Assim, a leitura de um livro apresenta inúmeras vantagens sobre outros meios de comunicação, sendo a reflexão a principal delas. A leitura torna indispensável um esforço para compreender, o que é altamente disciplinador e educativo. Outra vantagem: o desenvolvimento da criatividade. O leitor, muitas vezes, enriquece o texto; vai além dos fatos narrados: “lê” nas entrelinhas, usa a imaginação.

          Portanto, considerando-se que ler é interpretar os símbolos gráficos e compreender-lhes o significado, os objetivos da leitura na escola deverão principalmente levar o aluno ao desenvolvimento da habilidade de ler com compreensão, rapidez, espontaneidade e segurança; a utilizar-se da leitura como fonte de informação e aperfeiçoamento cultural; a utilizar-se da leitura como fonte do lúdico e da recreação, como ocupação das horas de lazer e a expressar-se eficientemente.

O livro de Inglês, seja qual for o nível dos alunos a que se destina, deve ser redigido em linguagem clara e precisa, na qual a dificuldade de vocabulário se restrinja à necessidade do uso de termos apropriados, para que a compreensão do texto não seja prejudicada.

Assim sendo, o livro didático é um eficiente recurso da aprendizagem no contexto escolar. Sua eficiência depende, todavia, de uma adequada escolha e utilização.

Partindo do princípio de que o verdadeiro aprendizado deve ser apoiado na compreensão e não na memória, e de que é só na interação com a classe que se pode estimular o raciocínio e o desenvolvimento de idéias próprias em busca de soluções, cabe ao professor aguçar seu espírito crítico diante do livro didático, pois é a ele que compete selecionar e fazer uso do livro, devendo, portanto, estar suficientemente informado para realizar satisfatoriamente essas tarefas. Entretanto, alguns pontos devem ser considerados: servir de recurso de atualização; atender às necessidades e interesses do aluno; auxiliar o professor e o aluno a atingirem os objetivos educacionais na formação de conhecimentos, competências e atitudes; contribuir para a formação de hábitos de crítica reflexiva (espírito crítico do aluno) e estar adequado ao projeto educativo da escola, portanto, articulado ao trabalho do professor.

Como se depreende da leitura acima, o livro didático, como qualquer outro recurso, tem sua importância condicionada ao uso que o professor dele faça. Não só pelo seu emprego correto, mas sabendo explorá-lo em função dos objetivos a alcançar, sabendo enfatizar os seus pontos fortes e anular seus pontos fracos. Se o professor estiver atento para analisar e selecionar o livro didático, estará capacitado para o seu devido emprego. Nesse sentido o livro didático, como qualquer outro recurso pedagógico, só será eficiente se estiver integrado no processo de aprendizagem. A aprendizagem envolve, em certo sentido, uma mudança de comportamento, por meio da experiência. Mas a experiência não é a única condição para que a aprendizagem se efetue. Cada vez que alguém aprende algo, é porque está preparado para isso. Estar preparado deve ser entendido há condições pré-existentes no indivíduo para que a aprendizagem se inicie, isto é, certo nível de maturidade foi alcançado e também que há necessidades do indivíduo a serem satisfeitas, que o impulsionam a querer aprender, isto é, se sentir motivado. Assim, maturidade e motivação são condições básicas para que a aprendizagem possa ocorrer. Desta conclusão pode-se retirar dois critérios para a seleção do livro didático. Ele estará sendo bem escolhido se seu conteúdo, seus exercícios, sua linguagem, suas ilustrações forem adequadas ao nível de maturidade do aluno e capaz de estimular o interesse do aluno, motivando‑o para a sua leitura.

Em resumo, os requisitos exigidos para um livro didático de Inglês seriam: papel e escrita adequados, seqüência lógica dos conteúdos, situações-problema relevantes e interessantes, possibilidades de desenvolver o raciocínio lógico para a compreensão e justificação dos conceitos, princípios gramaticais contextualizados, formas variadas para a avaliação da aprendizagem, aplicações dos conceitos em diferentes situações reais, leituras complementares, utilização de materiais feitos pelos alunos ou pelo professor, linguagem com clareza e precisão, e condições de integração com outras disciplinas.

Apesar de todas as considerações anteriormente apontadas a propósito do livro didático, sendo algumas delas questionáveis, acredita-se que para uma análise, escolha e utilização do livro didático, outros aspectos devam ser discutidos, principalmente em função de problemas bastante específicos da Educação Inglesa no Brasil.

 

Referências:

COSTA, D. N. M. Por que ensinas língua estrangeira na escola de 1º grau. São Paulo: EPU/EDU, 1987.

FREITAS, B.; COSTA, W. F. e MOTTA, R. O livro didático em questão. São Paulo: Cortez, 1997.

PFROMM NETTO, S.; ROSAMI.LHA, N. e DIB, C. Z. O livro na educação. Rio de Janeiro: Primor/INL, 1974.

 

Evandro Carlos Braggio.

Novembro, 2006.