NEUROSES

24/03/2022 18:32

Para que possamos perceber o significado das neuroses na Teoria Psicanalítica, é preciso, num primeiro momento, entender a origem e evolução desse conceito. 

O termo neurose provém da palavra grega neuron, que significa nervo, e acrescida do sufixo osis, que denota doença ou condição anormal. Segundo LAPLANCHE e PONTALIS (1991: 296), "o termo neurose parece ter sido introduzido por William Cullen (médico escocês) num tratado de medicina publicado em 1777". 

Entretanto, foi Sigmund Freud que cunhou o sentido psicanalítico do termo como um conflito do ego (aquilo que o indivíduo de fato consegue ser) com o id (aquilo que o sujeito gostaria de ter sido). 

Assim, para a Psicanálise, a palavra neurose - hoje também conhecida como transtorno - é utilizada para designar uma doença nervosa cujos sintomas simbolizam um conflito psíquico recalcado, de origem infantil. 

Para Freud, a sexualidade, principalmente a infantil, tem toda a importância para a maioria dos sintomas neuróticos, pois, segundo ele, a sexualidade é o centro das questões na neurose. Freud (1905) afirma que: em algum momento da infância posterior ao período de amamentação, comumente antes do quarto ano, a pulsão sexual dessa zona genital costuma redespertar e novamente durar algum tempo, até ser detida por uma nova supressão, ou prosseguir ininterruptamente. As circunstâncias possíveis são muito variadas e só é viável apreciá-las mediante uma análise mais rigorosa dos casos individuais. Mas todos os detalhes dessa segunda fase de atividade sexual infantil deixam atrás de si as mais profundas marcas (inconscientes) na memória da pessoa, determinam o desenvolvimento do seu caráter, caso ela permaneça sadia, e a sintomatologia de sua neurose, caso venha a adoecer depois da puberdade. (p. 178).

Isso posto, passemos a conhecer as várias manifestações neuróticas dos indivíduos e suas características principais. 

Em sua obra Teoria Psicanalítica das Neuroses (1998), Otto Fenichel, professor e psicanalista vienense, apresenta de forma bastante didática a doutrina psicanalítica centrada no estudo das neuroses. Com ela, o autor nos ensina que:

A teoria da neurose está para a prática terapêutica psicanalítica como a patologia está para a medicina interna: indubitavelmente alcançada para experiência prática, fornece o alicerce para o trabalho prático ulterior, representando tentativa de averiguar aquilo que é regular na etiologia, nas manifestações e no curso clínico das neuroses, de forma a munir-se de um método causalmente dirigido de terapia e profilaxia. (p. 5).

Assim, de todas as neuroses estudadas e apresentadas na obra acima citada, selecionamos algumas que nos importam por sua grande ocorrência na experiência clínica dos principais psicanalistas e estudiosos da área:

NEUROSE DE ANGÚSTIA: A Neurose de Angústia é assim denominada, pois tem na angústia seu principal sintoma. Ela se materializa por crises que se apresentam em curtos ou longos espaços de tempo e se manifesta, na maioria das vezes, em pessoas de constituição ansiosa.

NEUROSE DE ABANDONO: A Neurose de Abandono caracteriza-se por uma insegurança afetiva, provavelmente gerada por uma distância afetiva familiar, em que há uma necessidade ilimitada de amor, atenção e afirmação, numa busca infinita da segurança perdida.

NEUROSE FÓBICA: Na Neurose Fóbica o indivíduo desenvolve o medo. Também conhecida como Síndrome do Pânico, ela faz com que o sujeito fixe sua aflição em um objeto ou situação específica, de forma a manter um comportamento que evite aquilo que ele teme, ou seja, fugindo do que ele representa.

NEUROSE DE CARÁTER: A Neurose de Caráter faz com que os indivíduos que sofrem desse incômodo descarreguem seus impulsos, desejos e fantasias no mundo exterior. Ou seja, os sujeitos agem de forma estranha e injustificável. A característica principal dessa neurose é que, enquanto em outras neuroses de sintoma os indivíduos sentem seus incômodos, na Neurose de Caráter os sujeitos nem se percebem doentes.

NEUROSE HISTÉRICA: A Neurose Histérica, também conhecida como Neurose de Conversão, se evolui como uma reação de defesa dos conflitos recalcados e se materializa (se converte) no corpo por intermédio de comprometimentos sensoriais e motores. Também há perda de memória e situações intensas de pânico.

NEUROSE OBSESSIVA COMPULSIVA: Também chamada de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Nela, há a combinação da proibição com a satisfação e caracteriza-se por uma elevada incidência de pensamentos obsessivos que levam o indivíduo a estar em constante conflito. É peculiar nessa neurose a presença de onipotência e a necessidade de incerteza e da dúvida de ações desempenhadas em sua rotina diária.

Para além das diversas sintomatologias que resultam nas diferentes neuroses possíveis, a Psicanálise se apresenta como proposta psicológica capaz de fornecer um processo terapêutico em que se investigue a origem das neuroses e seu tratamento. 

Obviamente, o campo de atuação da Psicanálise não se restringe às neuroses, mas, inegavelmente, tem nelas seu maior trabalho. Quanto a isso, Fenichel (1998) afirma que:

em contraste nítido com todos os outros tipos de psicoterapia, a psicanálise tenta anular verdadeiramente as defesas patológicas. Este é o único meio por que se liberta o paciente, de uma vez por todas, as más consequências os seus conflitos patológicos e novamente se lhe colocam à disposição as energias (p. 526-527).

Para concluirmos nossa breve exposição sobre as neuroses, salientamos a importância e a eficácia da Psicanálise, tanto para o tratamento quanto para a profilaxia, por entendermos que, a partir das investigações realizadas por Freud e seus seguidores, nossa vida psíquica é altamente complexa e muito mais ampla do que podemos imaginar. Assim, nossos sentimentos, ideias, fantasias e tudo aquilo que fazemos são objetos de estudo dessa ciência moderna que se interessa pelos fenômenos da mente, tanto conscientes como inconscientes.


Evandro Carlos Braggio 

16 de Setembro de 2018


REFERÊNCIAS: 

FENICHEL, O. Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo: Atheneu, 1998. 

FREUD, S. (1905). Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 

LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991.