FREUD E A TEORIA DA SEXUALIDADE

24/03/2022 18:05

A obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade foi escrita em 1905 por Sigmund Freud e representa um avanço da teoria sobre os aspectos sexuais dos seres humanos e sua relação com a infância. Entretanto, embora suas considerações teóricas foquem os primeiros anos de vida dos indivíduos, Freud não tem como objetivo a criança. Ou seja, ela não é objeto de estudo de suas pesquisas, nem tão pouco à clínica infantil.

O objetivo central de suas pesquisas é investigar como os eventos ocorridos na fase infantil provocam reações e consequências na fase adulta dos indivíduos a partir de suas observações clínicas.

Assim, Freud descobre que a grande maioria de pensamentos e desejos reprimidos referia-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida das pessoas, ou seja, na fase infantil. Nessa fase estavam as experiências de caráter traumático e reprimidas que se configuravam como origem dos sintomas atuais. Nesse ínterim, Freud confirmou que as ocorrências de tal período de vida deixam marcas profundas na estruturação da personalidade.

Freud, então, coloca a sexualidade no centro da vida psíquica e estabelece seu segundo conceito mais importante - a sexualidade infantil. Com essa afirmativa, ele insere na sociedade puritana da época uma ideia bastante controversa, o que acarreta profundas repercussões acerca da noção de infância inocente em voga.

No primeiro ensaio intitulado As Aberrações Sexuais (p. 128 - 162), Freud trata do objeto e do alvo sexual. Segundo ele, o alvo sexual é "a ação para a qual a pulsão impele" (p. 128) e aos desvios que há em relação ao objeto sexual, nomeia de inversão (homossexualidade), Além disso, Freud refuta a concepção da inversão como uma degeneração e como um caráter absolutamente inato. Ele assevera a importância de algo do indivíduo na tendência à inversão, uma vez que as influências externas não são suficientes para explicá-las.

No segundo ensaio, cujo nome é A Sexualidade Infantil (p. 163 - 195), Freud chama atenção da sociedade quanto ao descaso com que a trata. Tomando o chuchar como modelo para as manifestações da sexualidade na infância, ele salienta sobre a função do autoerotismo nos primeiros anos de vida. Além disso, nesse ensaio Freud discute sobre a fase do Complexo de Édipo e tece críticas quanto à noção de hereditariedade imposta por alguns autores. 

O terceiro e último ensaio, intitulado As Transformações da Puberdade (p. 196 - 217), baseia-se nas modificações sofridas nessa fase. Esta, sofre alterações tanto físicas quanto psicológicas e representa a época em que o objeto sexual é finalmente definido, já que representa o fim do autoerotismo.

Apesar de os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade consistirem num avanço bastante significativo para a compreensão da sexualidade humana e de lançar luz sobre muitos aspectos inerentes a ela, é um engano acreditar que os tabus impostos sobre a sexualidade infantil a tornam oculta. É perceptível observar que os contatos entre mão e filho despertam nele as primeiras vivências de prazer.

A sexualidade infantil passa a se desenvolver desde o nascimento e prossegue num fluxo evolutivo em cada momento da infância até a puberdade. É nessa história que o indivíduo adquire suas experiências sexuais e, conforme esse percurso, sua vida sexual na fase adulta expressará suas possibilidades individuais.


Evandro Carlos Braggio

21 de Outubro de 2018


REFERÊNCIA:

FREUD, Sigmund. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, vol. VII, 1996.